"sua realidade segura por um fiapo de cabelo"

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Retrato de uma esperança para aqueles que foram esquecidos pelo Estado

“Todo aquele que contesta a autoridade e luta contra ela é um anarquista”, Sebastien Faure.

Um grupo de jovens estudantes dos mais variados cursos, membros de diversas classes sociais, com uma coisa em comum, a indignação ao Estado, que atende aos interesses do Capital e não da população a qual deveria ser ouvida e assistida por este que os ignora e exclui.

Estamos diante de uma selva, um mundo cruel e distante da fantasia exposta pela televisão. Jovens com ideais junto aos excluídos, moradores de rua, crianças viciadas em tíner, adultos alucinados pelo crack. Nesta realidade dura e sentenciada pelas classes que excluíram os que vieram sonhando com uma São Paulo de oportunidades, esta que brilha diante dos olhos de homens que estão nos pontos mais distantes do Brasil e são jogados ao purgatório dos vivos, a rua e a marginalidade que destrói com a humanidade destes sujeitos ingênuos que estão diante da tragédia de suas vidas, a rua, a fome, a violência e o frio. Aquele que sofre ao encontro com o extremista de direita que pode acabar com sua vida ou pode quebrá-lo e destruí-lo, morte para o homem que não existe para o estado. Este pode estar vulnerável a violência policial e ao descaso social. Que por fim encontra um lugar que o abriga, que o trata com fraternidade, e que se choca diante do Jovem que também está perante a um mundo mais suburbano que existe. O choque de realidade do morador e do estudante engajado, pode ser a mais dura lição da realidade a um jovem que não se alimenta do fútil e da ilusão que domina o homem moderno. Somos membros de uma geração pós-moderna e revolucionária de pensamento, que diante de intempéries pode ser a solução para a sociedade no futuro.

Temos pensamentos libertários, uma micro sociedade auto gestora, que conta com a cooperação de todos os membros, que faz decisões consensuais e que coexiste com vários egos. Lutas e bandeiras que vão desde o Tarifa Zero até bandeiras com ideais contra o sistema, pensemos que são todos os opositores e indignados que se juntaram em um espaço anárquico ou uma comunidade libertária no coração de São Paulo, assim como a definição de uma sociedade que não necessita da existência ou presença do governo como mantenedor da ordem, esta que vem com a consciência e fraternidade do companheiro desta comunidade recém nascida. Sem a liderança e sob o respeito ao próximo, a luta é nobre e a ação é tanto quanto.

Universidade Livre, projeto que levam acadêmicos a aulas livres no Anhangabaú, permite acesso ao conhecimento para todos, desde um sujeito formado na USP ao analfabeto morador de rua, que entende melhor de história que o formado em engenharia no Mackenzie. Nobre ação de dividir o prato de comida com o irmão que mora nas ruas a vinte e seis anos, muito mais tempo que a vida do estudante que vos escreve, este que tem apenas vinte e três anos.

Podemos nos chocar e aprender, com a ação que atinge diretamente o vício de crianças de rua, em momentos e outros cruzamos com tais crianças cheirando garrafas de água, esta que geralmente tem 40mls de tíner, quando vemos tal cena, pode pensar em crianças buscando na alucinação do tíner o lúdico que não tiveram, querem ser criança, mas este é o caminho mais próximo da imaginação, a alucinação. Tal retrato é trágico, quando que em minha realidade estaria diante desta imagem infernal ou chocante, vista com os olhos do racional, elas precisam ser crianças nem que seja às 3 horas da manhã, diante de uma bola de futebol e jovens adultos estudantes, cansados de um dia de debates se divertem como crianças e brincam com aquelas crianças que largaram suas garrafas da alucinação de lado para apenas ser crianças. O camelô e amigo Alex afirma que as crianças de rua são filhos de maus pais, ou seja, pais ausentes, assim como daquele jovem da classe media que tem seus pais ausentes, são todos esquecidos pelos adultos. Ver uma criança de aproximadamente sete anos de idade jogando um aviãozinho de um lado para outro por entre as rodinhas de debates, e ter a atenção de um sujeito que o entretêm como um irmão mais velho ou um tio, na madrugada de 12 de dezembro, onde está o pai que não cuida desta vida, cadê a presença do Estado para proteger este menor do mundo cruel e selvagem. Vejam o impacto deste movimento de ocupação. Está diante de um modificador das vísceras, como acordar a população para tal realidade muito diferente do que está acostumado a ver na televisão, como acordar o jovem adormecido diante do novo Brasil “American Way Of Life”.

Passar horas conversando com um ex-presidiário que esteve diante do desmoronamento da “liberdade”, homens que sofrem com a exclusão de outra maneira, e que tem sua dignidade manchada com um carimbo do presídio.

Estive diante de um líder da Cooperativa de Catadores de Papel, outra realidade distante da fantasia, este que não é ouvido pela “autoridade” e que é invisível pela sociedade. Até aonde chega a exclusão da sociedade moderna, temos diversos perfis e grupos dentre os excluídos.

Enquanto poucos debatem as mudanças e ações de luta para o reconhecimento do Estado e da população, na Ocupação do Anhangabaú, outros se agregam pela segurança e chuva de oportunidades para a vida dessas pessoas excluídas, talvez serem ouvidas e ter suas lutas ecoadas.

Um ideal de revolução, que está mais próximo da Revolução Cultural que está fazendo, diferente das ocupações do restante do mundo, enquanto uns ocupam o prédio que abriga o leilão da economia mundial, nós nos deparamos com a realidade que deve ser ouvida e respeitada. Mas que façamos como a ocupação da Espanha, acordemos a população do estado de sono profundo e deitado eternamente em berço esplendido ao som do mar e a luz do céu profundo. Vamos trazer a população às ruas para debate e para lutar por um Brasil democrático. Tenho meus ideais anárquicos, mas a democracia e a fraternidade é o primeiro passo para a evolução anarquista.

“(…) o anarquismo é uma manifestação dos anseios naturais do ser humano e que a tendência a criar instituições autoritárias é que seria uma aberração temporária.” [página 38]

“(…) todos os anarquistas aceitaram a proposição de que o homem possui naturalmente todas as qualidades que o tornam um ser capaz de viver em liberdade e harmonia.” [página 22]

“Quem quer que coloque a mão sobre mim para governar-me é um usurpador e um tirano – eu o declaro meu inimigo” [pagina 36], Proudhon.

“(…) o anarquista rejeita tanto a democracia como a autocracia. (…) A democracia prega a soberania do povo. O anarquismo a soberania da pessoa. (…) As instituições parlamentares são rejeitadas porque significam que o indivíduo abdicou de sua soberania, delegando-a a um representante e, ao fazê-lo, permitiu que fossem tomadas decisões em seu nome, sobre as quais já não tem nenhum controle”. [página 35]

“As coisas não podem ir bem na Inglaterra, nem jamais irão até que todos os bens sejam comuns a todos, até que não existam nem servos nem senhores e sejamos todos iguais. Pois que razão tem aqueles a quem chamamos senhores para aproveitar-se de nós? O que fizeram para merecê-lo? Por que nos mantêm em servidão? Se descendemos todos do mesmo pai e da mesma mãe, Adão e Eva, como podem afirmar e provar que são mais senhores do que nós? Exceto talvez porque nos fazem trabalhar para que eles gastem!” [página 42] John Ball

“o anarquista vê o progresso não como o acúmulo constante de bens materiais ou como a complexidade crescente de estilos de vida, mas em termos de uma moralização da sociedade através da supressão da autoridade, da desigualdade e da exploração econômica.” [página 31]

“ideal, o estado em que o ser humano seria mais livre e em que – senhores de seus sentidos e apetites – os homens teriam maior capacidade para espiritualizar suas vidas. (…) Para Kropotkin, o luxo não é o prazer pelas coisas materiais, mas as delícias – as maiores que um homem pode desejar – da ciência, especialmente da descoberta científica, e da arte, especialmente a criação artística. Ao simplificar a vida de tal maneira que o tempo dedicado ao trabalho seria reduzido, o anarquismo acredita que o homem poderá voltar sua atenção para atividades mais nobres, atingindo o equilíbrio filosófico no qual a morte deixará de ser algo aterrorizante.” Para Proudhon, “a vida humana só atinge sua plenitude quando inclui o amor, trabalho e ‘comunhão social, ou justiça’. Preenchidas essas condições, declara ele, a vida é plena: ela é uma festa, uma canção de amor, um perpétuo entusiasmo, um infinito hino à felicidade. E não importa o momento em que o sinal possa ser dado, o homem estará pronto, pois ele está sempre morrendo, o que significa que está sempre vivendo e amando.” [páginas 30 e 31]

“o anarquista crê num anseio suficientemente forte, capaz de sobreviver à destruição da autoridade e manter a sociedade unida pelos vínculos naturais e livres da fraternidade.” [página 13]

“Não temos medo de ruínas – nós herdaremos a Terra. Não há menor dúvida quanto a isso. A burguesia pode fazer explodir e arruinar o seu próprio mundo antes de abandonar o palco da história. Nós trazemos o novo mundo em nossos corações. Esse mundo está surgindo nesse momento.” Boaventura Durutti, [página 12]

Acreditemos no paradoxo de ordem na anarquia.

WOODCOCK, George. 1912-1995. História das idéias e movimentos Anarquistas. Vol. 1 A Idéia. Tradução de Júlia Tettamanzy. – Porto Alegre: L&PM, 2010;

15 de novembro de 2011.

“Paz é a ausência total de guerra…” AL Alan Nunes

Um libertário teórico e militante… Eduardo Marinho –
http://www.youtube.com/watch?v=NMn_1rQ3sms